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terça-feira, 24 de junho de 2008

Um Fado ao Longe

Chico Lira

Uma das cidades mais antigas do mundo (200 a.C), conhecida internacionalmente pelo seu vinho, o Porto é plural em todos os aspectos. O famoso Rio Douro que lhe contorna, testemunha sua alma feminina e romântica.
Mascarada por uma pós-modernidade atrevida, a segunda maior cidade portuguesa guarda nos seus antigos bairros, o passado glorioso em ruas estreitas (Reboleira, Miragaia, Caldeireiros...), angulosas e empedradas. Nos muros da Ribeira as pedras falam (murmuram) e contam histórias de mais de dois mil anos. E é na Cidade Baixa que se destaca o casario de telhados vermelhos e bucólicas roupas penduradas a secar nas janelas.
No Porto não tem erro. Aonde se vai o charme ronda a atmosfera cheia de segredos e mistérios: suntuosas praças, avenidas arborizadas, o moderno contrastando com o lírico e barroco de antiqüíssimas edificações, automóveis luxuosos, restaurantes, cafés ou tascas convidativas, e um detalhe que não passou despercebido: pessoas com ar de nobreza e elegantemente vestidas. Foi no Porto que constatei a máxima de Fradique Coutinho: “Todo português é um fidalgo”.
E nada melhor que conhecer uma cidade tão especial, como é a “Capital do Norte” de Portugal, se comunicando no velho e bom português. Tudo no Porto conspira para que o visitante se sinta à vontade, encantado. Principalmente se ele atravessar uma das monumentais pontes para Vila Nova de Gaia, e sentar numa das mesas dos bares da Avenida Beira–Mar, ali mesmo o principal “sítio das vinícolas”. Naquele calçadão do tipo miradouro, nada como provar uma ginginha (uma espécie de aguardente) antes mesmo de uma taça de vinho e deixar a vida passar suavemente, assistindo o deslumbrante visual do Porto que dali se apresenta, com a tranqüilidade serena dos barcos rabelos pra lá e pra cá.
No epicentro da cidade, mais precisamente no entorno da exuberante Avenida dos Aliados e Rua Santa Catarina, o comércio agitado, as fachadas das lojas, as enormes igrejas, os teatros, os monumentos e museus (têm vários) embalam o visitante como um poema de Fernando Pessoa ou um fado cantado por Amália Rodrigues ou Dulce Pontes.
E por falar em fado, no Porto, tão importante quanto o centenário Café Majestic, com seus salões em art-déco (na mesma Santa Catarina) é a sua música pop. Os grandes Rui Veloso e Pedro Abrunhosa em nada ficam a dever as grandes estrelas da Música Popular Brasileira.
Ir a Portugal e não visitar a terra do Infante D. Henrique, o Navegador, é perder uma infra-estrutura receptiva exemplar, onde os vinhos e o bacalhau são atrações à parte, embaixo do seu céu claro e altíssimo. Se tiver oportunidade, o visitante não pode deixar de assistir ao Futebol Clube do Porto jogar no seu espetacular Estádio do Dragão.
Quem gosta de um chopinho (lá eles chamam de “imperial”) e um churrasco no pão (pra eles “prego”) eu recomendo o fervilhante Piolho Bar (centro), que tem no sanduíche “Francesinha”: carne de vaca, salsicha fresca, mortadela e lingüiça cobertas de queijo e molho especial, o seu carro-chefe. Para quem curte bares com música eletrônica e rock, o caminho é o do Labirinto (próximo ao centro); e para quem desejar ouvir poemas ou mesmo recitar os seus, nas noites de quartas-feiras sempre rola um auê no Púcaros, que fica num dos porões das antigas casas às margens do onipresente Douro.
Pois é, o Porto passa longe da nossa arrepiante desinformação, que é estigmatizar Portugal como terra de velhotas sem dentes e enormes buços, sentadas ao sol. O que mais chamou minha atenção em Portugal, foi justamente a beleza de suas mulheres.
Só não estranhe os garçons. Eles são docemente rudes, mas jamais grosseiros.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Um fado ao longe", implica-me!Tenho cumplicidade com o olhar que devorou esta cidade, degustando-a em pomenor, como se faz com o melhor cálice de Porto. Porém, fui surpreendida ao ver desaguar num "fado", palavras que ao "longe", escrevem por outras linhas, uma história que é de dois. Como o Douro é do Atlântico. E curiosamente, no dia 24 de Junho, dia desta cidade.
Uma coincidência que acresce a uma outra,a que nos fez conhecer e tanto mais, que não sendo mar...aprendeu a rimar com as suas águas!....

Pela memória que ficou do Porto, um beijo

Manuela Aleixo